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Da Fome à Fome
CAMPELLO,TEREZA E BORTOLETTO, ANA PAULA
ELEFANTE EDITORA
60,00
Estoque: 9
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ste livro é resultado de um esforço para resgatar as ideias de Josué de Castro 75 anos depois da publicação de sua obra-prima, Geografia da fome, justamente num momento em que o país volta a enfrentar as formas mais graves da insegurança alimentar e nutricional. Em 26 artigos e uma linha do tempo, e em permanente diálogo com o intelectual pernambucano, Da fome à fome oferece um panorama multidisciplinar sobre esse flagelo na tentativa de responder a uma pergunta absurda: por que uma potência agropecuária mantém 33 milhões de pessoas sem comida na mesa enquanto exporta toneladas e mais toneladas de grãos e carnes todos os anos? Como se verá nestas páginas, a questão é essencialmente política. Por isso, Da fome à fome é leitura obrigatória para quem está estarrecido com a carestia brasileira do século xxi e deseja compreender o problema para além do discurso fácil e falacioso do agronegócio.
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Por que o Brasil voltou ao Mapa da Fome das Nações Unidas? Como uma potência agropecuária mantém parte significativa de sua população em insegurança alimentar? A pergunta encerra um paradoxo, mas não um mistério. Em 27 ensaios assinados por pesquisadores e ativistas, Da fome à fome: diálogos com Josué de Castro recorre ao legado do intelectual pernambucano para mostrar que, ao contrário do que prega o senso comum, essa terrível e persistente mazela não se combate apenas com produção de alimentos.
Organizado pelas pesquisadoras Ana Paula Bortoletto e Tereza Campello, ex-ministra do Desenvolvimento Social, o livro recupera e atualiza as análises de Geografia da fome: o dilema brasileiro: pão ou aço, clássico do pensamento nacional publicado há 75 anos. Com uma profusão de dados e argumentos, e diversos pontos de vista, Da fome à fome demonstra a falácia que é atribuir o retorno da fome ao Brasil à pandemia de covid-19 ou, pior ainda, à recente guerra na Ucrânia. O problema radica no desmonte das políticas públicas intensificado a partir de 2016, com a destituição da presidenta Dilma Rousseff.
“Usar a covid-19 para explicar o flagelo da fome que se espraiou pelo território nacional é tentar, mais uma vez, esconder o caráter estrutural e a sua natureza política e econômica baseada em um modelo excludente”, afirma Tereza Campello na Apresentação do livro.
Da fome à fome é resultado de seminário realizado em 2021 pela Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Entre os participantes do evento — e autores do livro — estão José Graziano da Silva, ex-presidente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), e Carlos Monteiro, um dos maiores especialistas mundiais em nutrição e alimentação, além das pesquisadoras Tania Bacelar e Inês Rugani, dos economistas Ricardo Abramovay e Ladislau Dowbor, e ativistas de movimentos pela alimentação saudável, de lutas antirracistas, por moradia e direitos de comunidades quilombolas — compondo uma miríade de olhares sobre tema tão complexo.
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É paradoxal que, hoje, três recordes diferentes sejam recorrentes nas manchetes brasileiras: fome, desmatamento e produção de grãos. O país foi marcado por um aumento assustador da fome — 55,2% das pessoas com algum grau de insegurança alimentar —, enquanto a expectativa é de que a safra de grãos alcance 259 milhões de toneladas em 2022. Tal crescimento da produção de commodities como soja e milho é acompanhado pelo avanço expressivo do desmatamento na Amazônia — o primeiro trimestre de 2022 apresentou os maiores níveis dos últimos seis anos. Essa combinação de fatores produz novas geografias que merecem ser analisadas detidamente: geografia da desigualdade, da pobreza, da produção de alimentos, da crise socioambiental e alimentar, entre tantas outras. […] É fato que o acirramento do quadro de fome e de insegurança alimentar no Brasil está entre as mais graves heranças da pandemia. Mas não esqueçamos que a covid-19 alcançou o Brasil em abril de 2020, e dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017-2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já indicavam a volta da fome. Dois anos antes da pandemia, era possível notar que o país, que havia saído do Mapa da Fome das Nações Unidas em 2014, caminhava na contramão nessa agenda.
— Tereza Campello, na Apresentação
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