LIVRO ABERTO

SABINO, FERNANDO
RECORD

84,90

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Estas páginas, inéditas em seus livros, representam anos de atividade literária, em cuidadosa seleção do próprio autor. O livro se abre com o agradecimento ao Prêmio Machado de Assis pelo Conjunto de Obra, que lhe concedeu a Academia Brasileira de Letras, em 1999. Remonta então ao início de sua carreira: uma crônica "O Caçador de Borboletas" (escrita aos 15 anos de idade) para a revista Alterosas de Belo Horizonte, sobre sua conversa com um passarinho. Pouco depois publica uma crítica entusiástica do romance de John Steinbeck "Vinhas da Ira", em O Diário, jornal mineiro de orientação católica, que a distinguiu com a seguinte advertência: "À margem do brilhante artigo de nosso colaborador Fernando Tavares Sabino, temos a acrescentar que leitura de "Vidas da Ira" deve reservar-se a adultos de caráter formado, e ser vedado a senhorinhas adolescentes." O autor do "brilhante artigo" tinha 16 anos. Não satisfeito, o jovem Tavares Sabino logo em seguida denunciava de maneira irrefutável ao Brasil e ao mundo que o grande "best seller" americano do momento, "Rebecca" de Daphne du Maurier, era um plágio do romance brasileiro "A Sucessora" de Carolina Nabuco. Por esta época enaltecia em seguidos artigos os romances de Octavio de Faria, ídolo de sua mocidade. Segue-se emocionada resposta à carta de Mário de Andrade sobre seu primeiro livro, aos 18 anos. Como participante da delegação mineira no Congresso de Escritores em São Paulo, descobre que o escritor Edgar Cavalheiro era um cavalheiro. Já no Rio, dá-se uma descoberta mais séria: a de Clarice Lispector, de quem se torna amigo para sempre (a partir do reconhecimento de sua importância literária num artigo sobre o romance "O Lustre"). Relembra os tempos idos e vividos em Nova York: suas aventuras e desventuras como fotógrafo amador, suas travessuras com Vinícius de Moraes e Jayme Ovalle, pintando e bordando com os pintores Salvador Dali, Noêmia, Lazar Segall. Recolhe sensacionais revelações sobre o que Frank Sinatra pensava das mulheres (e tantos outros homens continuam pensando). Depois de mil peripécias, encerra a temporada americana com os dois únicos poemas que jamais escreveu na vida. "Sinopse do tempo" e "O poeta, bêbado, faz pipi". Passa a uma série de crônicas sobre assuntos de rua ou de alcova no Rio. Transcreve algumas das suas emocionantes recriações literárias de acontecimentos policiais do dia, publicados no Diário Carioca na série "O Destino de Cada Um", sob o pseudônimo "Pedro Garcia Toledo". Faz a descrição empolgante de sua viagem de carro com Millôr Fernandes durante quarenta e tantos dias pelo Brasil abaixo, do Rio a Porto Alegre. (E como vieram a ser "fundadores" da cidade de Toledo, no interior do Paraná). Descreve a primeira viagem a vários país da Europa, e como foi proibido de reentrar em Portugal depois de haver escrito sobre a ditadura de Salazar. Fala com minúcias sobre suas peripécias em Cuba, em viagem com Jânio Quadros, seus entendimentos com Guevara e desentendimentos com Fidel Castro, de quem foi furtado o revólver em plena recepção na Embaixada Brasileira. Sua experiência da vida em Londres durante dois anos e tanto como jornalista e adido cultural rendeu-lhe uma série de crônicas sobre o "sucesso" do Brasil na Copa do Mundo de 1966, por exemplo. Em compensação, sobre grandes figuras como Laurence Olivier, de quem conseguiu um valioso ingresso para Carlos Lacerda ir assistir ao seu "Othello" (acabou não indo), o encontro com o pintor Miró, a vinda da Rainha ao Brasil, a vitoriosa rainha brasileira do tênis Maria Ester Bueno, a morte de Churchill e do poeta Dylan Thomas, os Beatles na intimidade - e por aí afora. De volta ao Brasil, reproduz o impressionante que lhe deu um jovem torturado pela polícia da ditadura, então reinante entre nós. A partir de então, narra seus encontros marcados com grandes figuras como Ary Barroso e Chico Buarque, Odete Lara e Márcia Haydée, Erasmo e Roberto Carlos, Nilton Santos e Tostão, Pancetti e Calasans Neto, Maria Bethânia e Maria Lúcia Godoi, Eder Jofre e Bráulio Pedroso, José Américo de Almeida e Tristão de Athayde, Jorge Amado e Dorival Caymmi, Alfredo Machado e Borjalo. Revive encontros com o poeta Stephen Spender e o romancista John dos Passos, relata seus desencontros com Pablo Neruda. A viagem a Hollywood com o cineasta David Neves, seu querido amigo, a fim de realizar a série de mini-filmes "Crônicas ao Vivo" para a TV Globo, lhe rendeu ainda outro tanto de deliciosas crônicas - como a da permissividade sexual em Los Angeles, a loucura reinante nos estúdios da Universal, a emoção de ser dirigido pelo Hitchkok ao filmar o grande diretor em refúgio. Seleciona preciosos ensaios seus sobre grandes nomes da literatura universal, cujas obras prefaciou na "Coleção Novelas Imortais" da Editora Rocco, por ele dirigida: Henry James, Flaubert, Pirandello, Cervantes, Stevenson, Tchekhov, Andreiev, Melville, Nerval, Hoffman, Musset. Tudo isso em meio a casos pungentes ou hilários, colhidos num flagrante de rua, num acidente doméstico, na vida do dia-a-dia. E recorda o convívio com seus melhores amigos, como Vinícius de Moraes, Rubem Bragra, Hélio Pellegrino, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos. O requinte de qualidade literária transparece tanto num comovido testemunho de Primeira Comunhão de sua filha, quanto no exemplo de concisão como regra de estilo, em anedotas de uma ou duas linhas. O livro se encerra já nos anos 90, com o relato da elaboração de três obras literárias, cada uma no seu gênero: "Zélia, uma Paixão", sobre a vida da ex-ministra da Economia; "Com a Graça de Deus", leitura fiel do Evangelho segundo o humos de Jesus; "Amor de Capitu", leitura fiel do romance de Machado de Assis sem o narrador Don Casmurro. Talvez possam surpreender a algum leitor certas passagens íntimas. "Minha vida é um livro aberto", se justifica Fernando Sabino. E sugere "seja o livro aberto ao acaso, lidas apenas as páginas soltas que despertarem interesse; depois passe o leitor a afirmar, a exemplo de tantos outros, haver lido o livro inteiro". O que provavelmente acabará acontecendo.
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