Cala a boca e me beija

ARAUJO, ALCIONE
RECORD

39,90

Esgotado

Um dos autores de teatro mais respeitados do país e premiado roteirista de filmes (Nunca fomos tão felizes, Policarpo Quaresma), o mineiro Alcione Araújo estreou na literatura em 1998 com o monumental romance Nem mesmo todo o oceano, finalista do Prêmio Jabuti, que ampliou seus horizontes de escritor de sólida carreira como dramaturgo. Cronista do jornal Estado de Minas desde 2001, sua primeira coletânea de crônicas, Urgente é a vida, foi consagrada com o Jabuti em 2005. Agora, prestes a completar 10 anos de crônicas semanais, Alcione — que nos últimos anos tem se dedicado ao posto de romancista — reúne em Cala a boca e me beija alguns dos melhores textos publicados no jornal mineiro. As 70 crônicas pinçadas aqui — dentre as cerca de 500 — são o resultado de uma seleção criteriosa feita pela professora da PUC–MG Glória Gomide, e têm em comum o apurado senso de observação de Alcione. O próprio título surgiu de uma discussão de uma garota com o namorado surfista no calçadão do Leblon, que chamou a atenção do escritor. Cansada do bate-boca, ela proclamou a frase, encerrando a briga. Nesta obra, o autor vai do cotidiano ao fabuloso, num texto que flui da narração à abstração com maestria. Com humor, muitas vezes com sarcasmo, outras com dramaticidade, conta casos do Rio, do seu mineiro Leblon e do mundo com a agudeza de um poeta. Recortes do real, flagrantes da vida, instantâneos. Erudito na simplicidade, como em “Marginália”, o autor deixa-se cair no escracho de “O crachá”, na qual trafega da etimologia da palavra ao incômodo causado pelo objeto em si. Em “Meus mortos jazem em mim”, com a sensibilidade à flor da pele, vemos o amor incondicional que reserva à memória dos que fizeram sua história e já não estão — pura homenagem à construção da vida. Na belíssima “Provação”, o temor a Deus e o absurdo da situação bíblica mostram que o escritor é um homem apaixonado pela paternidade — e pela vida. Alcione fala dos cachorros nos prédios, dos desejos sensuais, das caronas para mulheres bonitas, do homem da bicicleta e alto-falante que faz anúncio pelas ruas, das desquitadas, dos papos cabeça, dos pequenos gestos. Fala de velhos e de novos, dos eternos namorados, do medo da noite, das histórias infantis, do Barba Azul. Mas nenhuma observação ou palavra é escolhida ao acaso, o que faz com que seu leitor — seja ele adulto, jovem ou adolescente — sempre se veja dentro de sua crônica. Cala a boca e me beija é, nas palavras de Ignácio de Loyola Brandão, que assina a orelha do livro, “para sentar e deixar o tempo passar”. E adverte: “Leia em dia sem compromissos agendados. Ou vai perder tudo o que marcou”.
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