Recado Dos Dias

LAITANO, CLAUDIA
LIBRETOS

50,00

Sem Encomenda

Quem pesquisa sabe que os jornais são fontes primordiais. E, para trazer fatos, ambientação e a dimensão dos sentimentos coletivos, as crônicas cumprem muito bem essa função: a de não nos deixar esquecer. Não somente os dados, mas as emoções, a raiva, a impotência, com a necessária resistência frente a uma época desastrada, em que o retrocesso teve um espaço além do desejado. É preciso manter a confiança no ser humano, ainda que seja uma espécie malfalada.Cláudia Laitano nos possibilita manter em asilo essa memória, embalada em sensibilidade e revolta. A mudança do mundo passou pela sua forte observação e extrema competência em registrar nos textos o que provavelmente desejaríamos deixar quieto. No entanto, é preciso retornar, analisar, viver sobre outra perspectiva. Sair da caverna de Platão para tentar compreender. Só assim teremos chance de não repetir as mesmas asneiras.Mais de 10 anos de crônicas em Zero Hora, entre 2013 e 2024, compiladas e datadas, para o devido enquadramento. Uma obra histórica, surpreendente e necessária.Clô Barcellos, editoraEscrevo uma orelha, mas queria elogiar outra parte do corpo da autora: os olhos de Cláudia. É claro que ela também escuta, e muito. Mas é seu olhar penetrante, vivaz, que não perde nada. Ela enxerga com palavras.Após a coleta dos sentidos, seu texto cria uma trama complexa, mas enxuta e clara. A efemeridade da coluna de jornal é submersa em referências interessantes, porque Cláudia não foi editora de Cultura boa parte da sua vida por acaso. Os fatos aqui não são ilustres, são ilustrados.As percepções sensíveis contracenam com livros, filmes, ensaios, artigos, músicas e reflexões. Mas não tema uma erudição pomposa. Cultura aqui é metáfora, é espírito de um tempo, é o romance de formação de cada um de nós.Esses recados dos dias contêm arrebatamentos, essenciais à prática da crônica. Ela é atenta às grandes coisas pequenas. Como o súbito sentimento de maturidade – opa, acho que virei adulta! – que acometeu a autora, aos 24 anos, caminhando pela Av. Osvaldo Aranha. Ocasião para que ela se pergunte – conosco – se em algum momento nos admitimos em estado de adultez.Quanto aos grandes problemas, os textos não se furtam de encarar as roubadas em que estamos metidos: o clima geral de paranoia ressentida; as tristezas da pandemia e o desgoverno em que ela ocorreu; a obsessão pública em barrar os direitos das mulheres. Quando nos sentimos perdidos, a bagagem intelectual da autora nos contextualiza, mapeando o caos.Nossa cronista-jornalista, como ela se define, fala no presente, consciente da transitoriedade. O tempo, nessas crônicas, é uma espécie de personagem. Os textos assumem o risco de envelhecer. Cláudia deixa aparecer a marca do momento da vida da escritora ou do país em que cada situação aconteceu. São testemunhos compartilhados e documentos em que a posteridade nos lerá.“Tentei imaginar como, no futuro, vou dar sentido ao que está acontecendo agora – no Brasil e na minha vida. O que não estou vendo hoje que vai me parecer óbvio daqui a 10 anos? Me perguntem em 2032.” Ela escreveu em 2022. Está em meus planos fazer-lhe essa pergunta quando chegar o ano. Diana Corso, psicanalista e escritora
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