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Invenção Do Fogo
ALVES, ARIANE
LARANJA ORIGINAL
50,00
Estoque: 13
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O impacto que a poesia de Ariane Alves provoca é tão forte
que obriga a incorrer em tudo aquilo que o crítico literário não
deve fazer. Ser pessoal, em detrimento da objetividade analítica.
Fazer paralelos (algo que pode ser redutor, dirigindo a leitura)
e estabelecer genealogias. Já usar a categoria “poesia escrita por
mulheres” ou “feminina”, isto seria demais. Vamos às genealo
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gias: Cecilia Meirelles, inicial, do tempo em que foi simbolista,
menos clara, mais intensa (a meu ver, e desculpem-me os recita
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dores de “sou poeta”). Dora Ferreira da Silva em passagens dis
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cretamente sublimes. Hilda Hilst inicial, mas sem preciosismo
(em favor de Hilda: o preciosismo, nela, era um modo da iro
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nia). A infortunada Orides Fontela. Para a salvação dos homens,
trechos seletos de Murilo Mendes.
No quesito “ser pessoal”, um depoimento: em algum 2009,
caminhava rumo à Biblioteca de Pinheiros, onde daria oficina
de criação literária; cruzei com Ariane, convidei-a, pedi que
mostrasse seus textos, imediatamente observei a qualidade.
Em 2009...! Desde então, criei um chavão: ao vê-la, exclamava:
“Publique...!!!”. Assim sabemos que faz muitos anos, vem pre
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parando este livro. Refinando-o. Submetendo as palavras – em
especial, as imagens – a uma espécie de sublimação ou trans
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mutação. O resultado, analogias inesperadas, com um sentido
agudo de síntese: “Teu corpo renasce em um coral.” “A morte
não é um pedaço de marfim”
Como ninguém, no horizonte imediato da criação poética
contemporânea, oferece os mais expressivos paradoxos: “A nudez
é um princípio de imortalidade.” Ou então: “Contava o tempo em
grãos de sal.” A poeta que se esconde – ou se escondia até esta
Invenção do fogo. Que transita em uma espécie de avesso, um
mundo ao mesmo tempo presente e oculto. Essa dualidade, a re
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lação do evidente e do oculto, torna tão instigante a presente série
de poemas. Do choque, resultam passagens como esta: “O oceano
é o sono do universo. / Entre as rochas ressoam duas asas”.
A crítica tem instrumentos analíticos; serve para transmitir
ideias, conceitos. Agora, como transmitir a perplexidade, o espan
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to? Através da citação de outro trecho? Como este: “Ansiedade por
sentir-se/ Real./ Pássaro que repousa no asfalto”. “Posso abrir a últi
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ma porta?”, pergunta. Mas Ariane faz isso, abre portas, passagens
para outra dimensão; ou para esta, vislumbrada poeticamente.
Claudio Willer
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