Invenção Do Fogo

ALVES, ARIANE
LARANJA ORIGINAL

50,00

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O impacto que a poesia de Ariane Alves provoca é tão forte que obriga a incorrer em tudo aquilo que o crítico literário não deve fazer. Ser pessoal, em detrimento da objetividade analítica. Fazer paralelos (algo que pode ser redutor, dirigindo a leitura) e estabelecer genealogias. Já usar a categoria “poesia escrita por mulheres” ou “feminina”, isto seria demais. Vamos às genealo - gias: Cecilia Meirelles, inicial, do tempo em que foi simbolista, menos clara, mais intensa (a meu ver, e desculpem-me os recita - dores de “sou poeta”). Dora Ferreira da Silva em passagens dis - cretamente sublimes. Hilda Hilst inicial, mas sem preciosismo (em favor de Hilda: o preciosismo, nela, era um modo da iro - nia). A infortunada Orides Fontela. Para a salvação dos homens, trechos seletos de Murilo Mendes. No quesito “ser pessoal”, um depoimento: em algum 2009, caminhava rumo à Biblioteca de Pinheiros, onde daria oficina de criação literária; cruzei com Ariane, convidei-a, pedi que mostrasse seus textos, imediatamente observei a qualidade. Em 2009...! Desde então, criei um chavão: ao vê-la, exclamava: “Publique...!!!”. Assim sabemos que faz muitos anos, vem pre - parando este livro. Refinando-o. Submetendo as palavras – em especial, as imagens – a uma espécie de sublimação ou trans - mutação. O resultado, analogias inesperadas, com um sentido agudo de síntese: “Teu corpo renasce em um coral.” “A morte não é um pedaço de marfim” Como ninguém, no horizonte imediato da criação poética contemporânea, oferece os mais expressivos paradoxos: “A nudez é um princípio de imortalidade.” Ou então: “Contava o tempo em grãos de sal.” A poeta que se esconde – ou se escondia até esta Invenção do fogo. Que transita em uma espécie de avesso, um mundo ao mesmo tempo presente e oculto. Essa dualidade, a re - lação do evidente e do oculto, torna tão instigante a presente série de poemas. Do choque, resultam passagens como esta: “O oceano é o sono do universo. / Entre as rochas ressoam duas asas”. A crítica tem instrumentos analíticos; serve para transmitir ideias, conceitos. Agora, como transmitir a perplexidade, o espan - to? Através da citação de outro trecho? Como este: “Ansiedade por sentir-se/ Real./ Pássaro que repousa no asfalto”. “Posso abrir a últi - ma porta?”, pergunta. Mas Ariane faz isso, abre portas, passagens para outra dimensão; ou para esta, vislumbrada poeticamente. Claudio Willer
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