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Minha Mãe Inventada
ALKALAY, LUNA
LETRAMENTO EDITORA
42,90
Sem Encomenda
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Recentemente me dei conta que mais uma vez estava emigrada de mim mesma. Mais uma vez exilada de um lugar no qual me sentia abrigada, acolhida. O desterro, a diáspora, a ditadura, instalaram em mim um sentimento vivo de não pertencer a coisa nenhuma. Quase budista. Nunca vivi a doce saudade de um dia voltar para minha cidade, minha aldeia, minha família. Para alguém. Não conheço a sensação de raízes, de comidas de vó, de domingos, de férias sonhadas em sítios, no interior. Não tenho memórias de família a não ser alguns breves momentos que acabaram antes que eu pudesse me acostumar a eles. Nasci em Milão por acaso, porque meus pais tiveram a “sorte” de serem enviados para um campo de concentração no sul da Itália. Sou brasileira porque tive a sorte de meus pais emigraram para cá e aos dezoito, jurei bandeira e cantei o Hino Nacional. E consegui uma língua materna: o português. Minha Mãe Inventada é o relato de uma família em que a mãe se recusa a tocar em certos assuntos. O esfacelamento da sua vida calou sua boca. Teve de seguir adiante, refazer, desfazer. Eu lhe pedia que me contasse alguma coisa, ela repetia até onde podia. E então se levantava e voltava para a realidade. Para mim restaram algumas imagens de Viena, alguns nomes dos meus tios, nada mais. Porém não escapei ilesa desse imenso sofrimento. Até hoje, quando penso nos abandonos pelos quais passei criança, adolescente, adulta, tenho certeza que boa parte da minha capacidade de superação é baseada no exemplo deles. Vou em frente, encontro uma razão para superar a dor, reduzo o tamanho do golpe. Mas sei que a sensação de soco do estômago aparece sempre que penso na minha mãe perdendo a sua. E atravessando o Atlântico. Meus pais sem qualquer família e eu só com eles. Quanto mar, tanto medo. Autora: Luna Alkalay
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