Ave Rara - uma arqueologia da palavra

ARRUDA, HELENA
URUTAU EDITORA

48,00

Estoque: 16

“nessa arqueologia, em busca da ave-palavra te convido a aguçar os sentidos, a deixar fluir as incertezas, a remover as pedras que teimam em impedir o voo (…) nessa arqueologia, te convido a me dar as mãos os olhos os ouvidos e a entrar comigo na caverna, silenciosamente, até que ouçamos o pio da ave; a voz, o chamado” Tão logo adentrei o universo poético de Helena Arruda, desde seu primeiro livro, deparei-me com esse chamado, um convite irrecusável. Assim é Helena quando decide abrir todas as fronteiras, arrombar as portas, arrebentar as cercas, escancarar as janelas, mergulhar em alto mar, subir montanhas íngremes e escorregadias, voar, ou, simplesmente, ficar. Se antes ela buscava sua “flor no abismo”, passa agora a buscar incessantemente a “ave rara”. Para isso, ela escava, arqueologicamente, os porões do pensamento numa procura pujante; pois se no princípio era o verbo, a poeta brinca com Cronos e se antecipa a ele com imagens impactantes, belíssimas, como a “mulher de dedos longos” que a acompanha não só nas montanhas, mas nas águas dos rios, nos oceanos, nos campos estrangeiros, nas esquinas das metrópoles, nas ruas, na vida e, talvez, na morte. É ela quem lhe diz a hora de retornar e de retomar a poesia, é ela quem abraça a poeta quando o cansaço é insuportável, quando as dores vêm, é ela quem lhe aponta os caminhos e as curas. Mas a poeta novamente se antecipa e confessa que um dia esse retorno será impossível. É nessa linha tênue que tudo acontece, nesse zênite que lhe recobre a cabeça, o corpo, os olhos, os ouvidos, a pele, as veias, as linhas fronteiriças entre o Ocidente e o Oriente, entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, entre a imaginação e a alma. Por meio de uma costura ordenada — a poeta mantém uma linha temporal de acontecimentos sobre o nascimento da poética —, e uma melodia ritmada, com muitas vozes sobrepostas, Helena traz à tona temas necessários, recorrentes em sua poesia, colocando no centro a figura da mulher, sem, no entanto, desligar-se do seu objeto principal: a palavra-corpo, a palavra-cicatriz, a palavra-mundo, a “ave rara” que sai da sua boca e das bocas de suas predecessoras e de suas contemporâneas. Helena Arruda, com sua voz única, vem imprimindo marcas indeléveis à poesia brasileira contemporânea. Desde sua poesia política à sua poesia mais intimista, a poeta finca os pés, solta a voz, liberta corpos aprisionados, voa alto, e, por fim, pousa serena em meio às vozes mais potentes dessa geração de poetas. Marta A. Chaves
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