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LIRA, FERNANDA
URUTAU EDITORA

48,00

Estoque: 21

Nesta primeira coletânea, Fernanda Lira já demonstra habilidade em lidar com diferentes recursos da linguagem poética: o verso livre, o poema em prosa, entre o narrativo e o expressivo, o poema em forma de conversa, de fragmento de diário, de lista em que a poesia aparece em meio a itens de supermercado. Também é significativo o uso do espaçamento e de recursos gráficos que produzem tensão entre significado semântico e potência semiótica — herança mallarmaica homenageada ambiguamente em um dos poemas. A intertextualidade, ora mais ora menos explicitada, é bastante presente também, aproximando diferentes tipos de discurso como o da filosofia e o da música pop, o da poesia da tradição moderna e o do mais “infraordinário” coloquialismo. O poeta Paulo Henriques Britto empresta seus versos à epígrafe, abrindo o livro, portanto, sob uma marca de intensidade e falta, que reaparece no modo como a primeira parte, intitulada “de tout coeur”, é seguida de poema intitulado “Se segura, Cinderela”. A Paulo e Mallarmé vêm se juntar referências tão diversas como o escritor surrealista Michel Leiris e as cantoras pop Rita Lee e Lana Del Rey, citada em um poema em que a poesia é mostrada como “pseudoautobiografia” conflitante: “hope is a dangerous thing/for a woman like me to have”. Essas e outras citações musicais dão o tom da segunda parte do livro, não por acaso intitulada “.mp3”. A ela se seguem as nomeadas como “retalhos e pílulas”, que ajudam a confirmar a tessitura, entre excesso e falta, dessa poesia. No conjunto de procedimentos convocados, se encena uma possibilidade de atualização do lirismo como subjetivação dramática do escrever e do apagar, do escrever apagando — dolorosa conjugação da arte de poder com a arte de perder, a si mesma, inclusive ou principalmente, como ensina Elizabeth Bishop, lembrada no poema “Não é nenhum mistério”. Mostrando coração, corpo e palavra sempre à beira da queda, do que já foi e do que ainda não é, tempo-espaço 00:00, como apontado desde o título do livro, a poesia de Fernanda representa uma bela promessa. Celia Pedrosa
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