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Tudo Que Ancora Em Mim
MAIA, MANOELA
URUTAU EDITORA
48,00
Estoque: 14
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Ancoramos nosso corpo no amor lendo Manoela. O amor da mulher, com a mulher e para a mulher que deságua e escorre para viver na escrita a beleza e a dor até o seu último dia-palavra. Não só o amor dedicado a outro ser, mas à vida, à si e ao relato fotográfico de um acontecimento onde está pulsante esse sentimento.
Denotar a máxima intransitividade desse sentimento que nos move e por vezes nos para, nesse caso vindo de uma escritora, é dizer que o bloco de notas é “todinho seu”, ou seja, seus escritos transpiram amor. Quando ela se encanta ou cai junto no seu abismo; quando ela brinca ou quer viver junto dele o absurdo, quando suspira ou entrega as chaves a ele. Se o amor machuca para a poeta, vale a pena escorrer como água, dobrar seus joelhos para ele e sangrar. Como em Sophia de Mello Breyner Andresen, em Dia do Mar (1947), “nas tuas mãos trazia o meu mundo”.
Começamos com os dedos molhados de suor lendo, fluímos como água-sangue nas veias, no toque e terminamos com os eles molhados de água salgada, lágrimas e gozo. A força da água está muito presente, como sendo a água o amor e vice-versa. Matilde Campilho, em Jóquei (2015) escreveu “os peixes respiram debaixo de água e se você mergulhar entre as rochas e se concentrar muito também vai conseguir”, em “Tudo Que Ancora em Mim” conseguimos respirar embaixo da água se nos concentramos nas suas linhas e entrelinhas. Saímos dele, então, com a sensação de que a vida é mulher, como em Hilda Hilst, em Alcóolicas (1990), “Deita-te comigo. Apreende a experiência lésbica: O êxtase de te deitares contigo. Beba. Estilhaça a tua própria medida.”
Vamos juntos com o barco de Manoela em direção a esse furacão que nos arrasa e nos alegra, pois “um corpo é um corpo na medida da conexão com os outros”, e um livro é um livro também nessa medida. E esse livro nos conecta de tal forma que sentimos na pele do olhar a mulher ferina e ao fechá-lo, o cheiro da mulher poesia infinita, vivendo.
Cláudia Cesca
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