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Ninguém Sai Ileso do Corpo
FERREIRA, NATHALIA
URUTAU EDITORA
52,00
Estoque: 13
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(junto é o lugar onde não sabemos nada
e quando achamos que sabemos
só podemos estar enganadas)
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Como apresentar a poesia se ela mesma já se apresenta de forma tão viva na carne da palavra? Sugeriria eu, então, que façamos uma respiração profunda, capaz de acompanhar o que ela leva ao corpo-coração.
Este livro poderá ser lido como quem lê uma história e busca avidamente seu desfecho. Ou como quem se alimenta de pequenas pílulas de vida ao final do dia. Ou, ainda, de um terceiro modo, que é para onde ele nos convoca de forma mais visceral, embasbacados e trêmulos de esperança.
“Ninguém me dará a voz: terei eu mesma que abrir as bocas” diz um de seus poemas. E é isso mesmo que Nathália faz quando insiste nas imagens, torce as palavras, recolhe as memórias, dialoga com outros poetas enquanto também expõe, com uma intensidade particular, os mais recônditos mundos por ela deflagrados.
Em “escolhendo entre rilke e lude freitas para levar no trem hoje”, a poeta aposta no poema como roda de conversa, construção coletiva. Ela deseja, ardentemente, construir a cena junto aos seus contemporâneos. Mas Drummond, aquele que cansou de ser moderno e queria ser eterno, também se faz presente na intertextualidade de Nathália: mais de uma vez, ela encontra pedras no caminho e com elas conversa.
Todo poeta é um pouco flanêur, caminhante-andante-perguntante. A poesia de Nathália nasce no metrô quando todos os passageiros são também vistos como arroz empapado; mas também nasce nas balas Juquinha e no cheiro forte do perfume Malbec da Boticário. Nasce no chão desta terra quando a poeta se pergunta sobre os pés que já estiveram aqui antes ou mesmo sobre o que restará de nossos vestígios em um futuro imaginado.
Nathália é intensa observadora, e é sempre no corpo, e pelo corpo, que tudo acontece. O erotismo, que atravessa fortemente os poemas, evidencia que talvez seja na nudez do encontro com outro corpo que acabamos por nos perguntar, afinal, a que será que tudo isso que se destina.
Ninguém sai ileso do corpo, de Nathália Ferreira, é fato, e o título é bem sábio ao nos alertar disso. Mas, tal qual os sábios, não nos revela tudo. Não nos revela que o corpo é fronteira entre o eu e o tu, entre o antes e o depois, entre a vida e a morte. E que ele não sabe de tudo, mas sabe de muita coisa. Não revela que matéria não é coisa dada e que Nathália está disposta a desvelar. E desvela a palavra cuidadosamente, descascando as camadas mais espessas até chegar na misteriosa ossatura que lhe interessa.
Maíra Gerstner
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