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Copo Americano
PINERO, ANDRE
URUTAU EDITORA
45,00
Estoque: 22
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“A janela não abre/não corre/nem range/ela é estática como coluna de uma casa que sustentaria uma família inteira.”
Ao ler o livro de André Piñeiro pela primeira vez, me deparei com essa e outras frases que fizeram a mim necessário um tempo de pausa e internalização do passeio imagético que o autor nos convida a realizar. Seus poemas são narrativas intensas de histórias pessoais, mas que, gentilmente, nossa imaginação nos empresta como se as tivéssemos vivido, como se estivéssemos assistindo pessoalmente cada linha de seus textos.
As palavras do autor são resultado de uma observação mais do que apurada, resultam de sua vivência pelas ruas, a história de seus grandes amores passageiros e, parafraseando Conceição Evaristo, “o mar vagueando onduloso pelos seus pensamentos”. Cada linha deste livro trata-se de um ritual memorialístico em que o coração é livre e sem medo, sem medo de viver e, acima de tudo, de compartilhar suas histórias por meio de uma construção estética refinada, ao mesmo tempo acessível e de qualidade, o que são características raras em novos autores hoje em dia.
André nos abre uma janela imaginativa na qual o conhecemos pela primeira vez, assim como sua forma de escrever e contar parte de suas escrevivências. Sua poesia traz à tona grandes fatos por meio de elementos que constroem o cotidiano. Nos deparamos com a pandemia de COVID-19, que teve início em 2020, com a perda para a morte física de alguém querido, com o luto sobre a perda de quem ainda não morreu. Temas fortes, comuns, diários. Temas que discutimos em casa, no trabalho e na mesa do bar.
Os poemas contidos neste livro demonstram a maturidade do autor em lidar com os assuntos diários sem cair em clichês e seu talento para costurar narrativas intensas através de frases pequenas e em poemas de uma página só. Nada no livro de André soa como algo datado ou passível de esquecimento, pois sua estética é extremamente marcante.
E dessa forma, Copo americano é um convite à vida real com intensidade e delicadeza, resultado de poemas que revelam vulnerabilidade e força, as de André e as nossas relações com o outro e o mundo, e principalmente, nos revelam a nós mesmos, com dias que queremos guardar, dias que preferimos esquecer, dias que não passam. Como leitores, não sabemos especificamente a quem o poema é dedicado ou em quem o autor se inspirou, entretanto, isso não impede que possamos imaginar. Um desejo “pardessus tous les autres” de continuar a leitura de um livro que nos acende, que nos mantém com a brasa quente acesa nos pés.
Gabriela Rubia Ferreira-Bastos
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