O Anarquista Solitário

ALVES-BEZERRA, WILSON
ILUMINURAS

98,00

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No instante do dia 5 de março de 1902 em que um tiro de pistola encontrou a cabeça de Federico Ferrando, era seu amigo o poeta e narrador uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937) quem tinha nas mãos a arma assassina. Uma resenha literária farpada provocou trocas de ofensas em páginas de jornais de Montevideo e a rixa entre desafetos desembocaria num duelo, do qual Horacio não teria sido mais do que coadjuvante — isto é, não fosse a ação do inesperado, com o azar como autor de um disparo enquanto Quiroga conferia a arma de seu apadrinhado. Mas a morte do companheiro foi também mais um entre os muitos desastres de sua vida — e, dependendo de como for contada, a sucessão de azares letais ganha ares de destino, com tragédias empilhadas por uma moira com um fraco por simetrias improváveis e amores difíceis (por mulheres, pela selva). Combinada ao insólito de sua literatura, a imagem de Horacio Quiroga sai maior do que a vida, mas também simplificada e um tanto folhetinesca. Já no livro que se tem em mãos, a história de Quiroga é outra — e para a felicidade de seus leitores, aliás. Sendo autor da primeira biografia do escritor em língua portuguesa, Wilson Alves-Bezerra beneficiou-se aqui das versões da vida de Horacio já contadas em espanhol, mas também delas se distanciou sem cerimônia quando foram necessários alguns acertos de contas. Entre os mais importantes estão sem dúvida sua contribuição à reconsideração da importância da relação com a poeta argentina Alfonsina Storni; seu interesse no modo como os filhos Darío, Eglé e Pitoca foram afetados pelo pai (e pela selva); e a atenção dedicada a María Elena Bravo — a amiga de escola da filha que veio a se tornar a última esposa do escritor —, que resulta do acesso ao material deixado pela viúva, e adquirido nas circunstâncias improváveis (como não poderia deixar de ser) relatadas no posfácio. Tudo isso importa, mas por cima da descoberta e da polêmica, o que de fato move as páginas deste livro de Alves-Bezerra é a preocupação constante em ver, através da imagem do herói literário, um escritor de carne e osso, às voltas com preocupações bastante materiais: há aqui todas as surpresas de uma vida intensa e cheia de imprevistos, mas também contas a pagar, plantas a cultivar, altos e baixos do prestígio literário, a distância entre a selva de Misiones e os centros locais de difusão da cultura letrada, parentes entrando no caminho de paixões um tanto impróprias, o corpo que envelhece e força decisões difíceis. De carne e osso o biografado, então — mas também o biógrafo. Wilson é professor universitário e lida com Horacio como objeto de pesquisa há tempos, além de ter traduzido seus Contos da selva, Cartas de um caçador, Contos de amor de loucura e de morte e Os Desterrados (todos pela Iluminuras). Tauan Tinti Professor de literatura na UFPB Wilson Alves-Bezerra, São Paulo, 1977, é crítico literário, poeta, romancista, crítico e professor na Universidade Federal de São Carlos. É ainda autor dos livros de poemas Vertigens, Iluminuras, 2015, prêmio Jabuti na categoria Poesia, escolha do leitor, O Pau do Brasil, Urutau, 2016-2019 e Malangue Malanga, Iluminuras, 2021, entre outros. Publicou ainda os romances Vapor Barato, Iluminuras, 2018 e A Máquina de Moer os Dias, Iluminuras, 2023. No Uruguai, publicou uma série de cartas inéditas de Quiroga: Nuevos papeles íntimos. Cartas inéditas, +Quiroga, 2022, além de Reverberaciones de la frontera en Horacio Quiroga, +Quiroga, 2021. Na Inglaterra, A narrative biography of Horacio Quiroga, the Lone Anarchist, Cambridge Scholars, 2023. É professor de Letras na Universidade Federal de São Carlos e atualmente ocupa a direção da EdUFSCar.
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