Churrasco


KOTTER EDITORIAL

104,70

Sob encomenda
8 dias


Uma das buscas incansáveis de Donoso, em sua batalha diária na literatura, é a reconexão entre as palavras e as coisas. Trata-se de uma crítica por meio da forma, um reposicionamento da palavra como meio de enfrentamento ao cinismo. Outra busca é o compromisso com a imagem: a construção de uma imagem vista nas sutilezas de um rosto em movimento, como um desses microgestos em que o nariz parece se mover, escapando da impertinência de uma mosca. Isso transmite a mensagem de que a imagem capturada pela lente da câmera é outra coisa, algo que não deve aposentar a imagem literária ou pictórica. As imagens de Churrasco, portanto, surgem como “aparições” vindas de algum lugar desconhecido. Churrasco, portanto, é um romance que não se entrega ao fetiche da inovação, nem cede aos acessórios que emergem como “pressão” dos tempos. Seu movimento estético não acompanha o gesto da neblina que se ergue do manancial do “agora”. Pelo contrário, o que ele faz é mergulhar ainda mais fundo na densidade pesada e fria das águas, até enredar-se em raízes e afundar-se até o peito na lama ciumenta e possessiva do solo. Sua novidade, portanto, reside na luta para profanar o óbvio, de “procurar chifre em cabeça de cavalo”. Aqui talvez seja o ponto onde a literatura toca a insistência. A novidade de insistir em um mundo disperso é o que vemos se desenrolar, quase em câmera lenta, nas páginas de Churrasco. As ilustrações, cuja liberdade de criação me foi concedida, são, por outro lado, uma versão acelerada, uma reação estética ao ritmo microscópico da narrativa. Por quê? Porque eu não ficaria à vontade se soubesse que o que fiz tivesse uma mínima intimidade com a ideia de “fixação das coisas”. Fernando Lionel Quiroga. Prof. Dr. Universidade Estadual de Goiás / PPG-IELT
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